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"Vivendo Bem no Fim do Mundo" - entrevista de Norman Reedus para a Geek Magazine

Para aqueles que desconfiam que Norman Reedus é o tipo do cara que fica feliz simplesmente esparramado no sofá enquanto aprecia os prazeres simples de uma pizza gelada com cerveja em uma latinha congelada, eu posso confirmar agora que suas suspeitas estão certas.

Por que, apenas algumas horas após eu encontrar o ator  - que é um sucesso absoluto na pele do bad boy sulista, dirigndo uma Harley (NOTA DO TRADUTOR: Sim, sabemos que não é uma Harley, mas optamos por manter o texto original da reportagem!), mestre da besta e matador de zumbis, Daryl Dixon em the Walking Dead - lá estava ele, com uma fatia que havia sobrado de pizza em uma mão e uma  Pabst Blue Ribbon na outra. Em Manhattan, durante uma folga nas filmagens da quarta temporada do drama zumbi na Georgia, Reedus chegou para o nosso ensaio no Fast Alley Studios, Brooklin, sozinho e pontualmente, vestindo jeans e camiseta. Após alguns minutos, algumas apresentações e palavras de agradecimento a ele por sacrificar um dia de folga, ele se vestiu para nossa primeira sessão.

Observando avidamente enquanto o fotógrafo Richard Kern fazia alguns testes para finalizar o preparo da iluminação, Reedus, também fotógrafo e ex-modelo da Prada e de outras marcas famosas - notou o furor das fãs devido a uma foto dele como Dixon recém publicada pela mídia, uma das primeiras imagens da quarta temporada de The Walking Dead: o ator visto de perfil, uma bandana ao redor do rosto, olhar distante. "Você não acreditaria no que as pessoas estão falando," ele diz. Na verdade, eu já sabia, uma vez que as especulações já corriam soltas nos sites de fãs. As pessoas se perguntavam no Collider.com, "Ele está planejando roubar um trem? Está gripado?"  No Hypable.com, alguém perguntou: "Ele está cobrindo um ferimento?  Estaria pensando que este visual mais asustador poderia afugentar o Governador?"



Reedus estava tão impressionado quanto feliz: "É muito legal o tipo de especulação que se iniciou com aquela foto, como as que talvez eu estivesse desfigurado ou doente - que há algum motivo para estar com o rosto coberto. A verdade é que foi uma foto tirada durante a  produção e eu apenas vesti aquela bandana para uma única tomada, enquanto queimávamos alguns walkers. Mas a atenção que nossos fãs dão a cada pequeno detalhe é apenas uma indicação de como eles são apaixonados pelo show." E claro, Reedus agradece aquela paixão.

Comunicativo e divertido, Reedus e a modelo Britany Nola brincaram enquanto trabalhavam no estúdio de Kern, facilmente incorporando seus papéis - incluindo flechas, taças de Martini, um tabuleiro de xadrez gótico e miniaturas de bestas na sua brincadeira. Depois de um longo tempo, o ensaio terminou e Reedus iria visitar seu filho Mingus em Manhattan, prometendo que conversaríamos em breve, para felicidade dos leitores da Geek: "Tive bons momentos aqui. E se vocês quiserem fazer isso de novo, contem comigo!"

A entrevista a seguir veio depois daquele momento, semanas após o ensaio, quando Reedus já estava volta ao set de The Walking Dead, nas cercanias de Atlanta, e eu estava de volta ao QG da Geek em Los Angeles. Do momento em que ele nos atendeu em diante, foi como se nunca tivéssemos saído do estúdio. Adorável, curioso e centrado, Reedus, tal qual pizza e cerveja, é muito fácil de se gostar.

GEEK: Parece que você voltou à loucura depois de nosso ensaio no Brooklyn.

Reedus: Sim. Depois daquilo, fui à San Diego Comic-Con — que é uma loucura — e depois passei um dia em [Stretch], um filme de Ed Helms dirigido por Joe Carnahan em Los Angeles e, por fim, voei de volta à Georgia e começamos a filmar The Walking Dead. Tivemos alguns atrasos estranhos por causa da chuva, então foi  um pouco caótico. Tipo "Faremos isso", "Não, filmaremos dentro do estúdio", "Não, vamos para a rua." Na Georgia, a chuva causará um dilúvio e então fará sol vinte minutos depois.

Percebi no ensaio que você estava prestando atenção em tudo o que Richard fazia.

Ele é incrível. Sou fã do trabalho dele e nunca pensei que trabalharíamos juntos.  Eu sempre falo muito com [os fotógrafos] Patrick Hoelck e Terry Richardson, por que eles sempre perguntam "O que você está fazendo?" Eu contei a eles "Vou fazer um ensaio com Richard Kern." Eles surtaram. Eles disseram "Esse é o cara!" Foi legal isso. E temos filhos da mesma idade, ele já esteve em uma banda e eu quase estive. Então, não sei, temos gostos parecidos.

E você sobreviveu à Comic-Con?

Sim, foi minha terceira. Não fui na primeira [quando eles promoveram a primeira temporada de The Walking Dead por que eu não aparecia até o terceiro episódio. Além do mais, eu não tinha certeza se eles sabiam que eu ficaria por tanto tempo. Meio que virou The Walking Deadicon. É uma loucura. Quero dizer, até mesmo no primeiro ano que participei, na promoção da segunda temporada, o show já era tão grande, e foi ficando maior e maior. [O co-criador da HQ e produtor executivo da série, Robert]Kirkman  já tinha participado sozinho daquilo lá, Então nós já tinhamos aqueles contatos, adicionamos a série de TV e... bem, virou algo gigantesco - e divertido.



Você precisou entrar em algum tipo de modo de sobrevivência após os primeiros dias?

Não, mas se eu quisesse dar uma caminhada, mesmo para ir no banheiro, eu tinha que me disfarçar. Eu colocava uma máscara de urso panda, e é interessante você estar por detrás de um panda caminhando pelos corredores. Você fica olhando através dos orifícios na cabeça da máscara e enxerga 35 Rick Grimes e 12 Daryl Dixons ao seu redor, e tudo o que consegue ouvir é o som da sua respiração. Foi surreal, mas divertido!

Quando as pessoas especulam sobre o show, você é do tipo que morde a língua e fala, acena com a cabeça e diz "Interessante"?

Sim, acontece o tempo todo. O tempo todo. Algumas vezes eles acertam, mas algumas vezes você pode adivinhar quando é apenas um entrevistador tentando fazer com que você revele algo.

Mas mesmo quando membros do elenco e da equipe aparecem no Talking Dead, vocês todos são ótimos em proteger as surpresas do show.

Gosto do fato de vocês não saberem o que acontecerá na próxima semana. E mesmo que o show seja baseado em uma revista em quadrinhos, a história é diferente de lá, por que senão todos saberiam exatamente o que iria acontecer. Mas eu gosto de esperar [o episódio ir ao ar] domingo. Eu quero esperar pelo domingo. Então, não é difícil para mim não dar spoilers, por que também é divertido para mim. Enquanto filmamos o show, eu praticamente só vejo as cenas onde eu apareço. Eu não gosto de assistir antes de ir ao ar por que gosto de ver as coisas da mesma maneira que o público vê. Apesar de ler os scripts, algumas coisas acabam sendo bastante diferentes do que está escrito. Então, sim, eu não gosto de spoilers.

Que outros programas você assiste?

Oh, The Killing está simplesmente matador. Assisto Game of Thrones, sou um grande fã de Portlandia e não perco Louis C.K. Show. Sou muito fã de Larry David. Eu assisti todo Curb Your Enthusiasm de uma vez. E, evidentemente, Breaking Bad

Você é incrivelmente ocupado filmando o show na Georgia, mas que outro tipo de coisas você faz? Quando você tem algum tempo livre, algum tempo para o Norman?

Eu não tenho muito tempo para o Norman agora. Mingus virá para cá antes de retornar à escola em Nova York, mas ele está em Copenhagen neste momento com a sua mãe. Ele tem uma imensa família dinamarquesa lá, cheia de garotos, então ele adora ir para lá.

Você está interpretando este personagem incrivelmente popular, conflituoso e heróico. Como seu filho vê isso?

Ele adora. Quando comecei no show, ele não assistia por ser muito assustador. E ele não tinha idade o suficiente para começar a assistir e gostar. Mas então eu o busquei na escola durante o final da primeira temporada, e ele estava esperando do lado de fora, com um sorrisão no rosto. Eu perguntei "Que sorriso é esse?",  e ele respondeu, "Alguns dos garotos mais velhos na escola vieram falar comigo e perguntaram 'Seu pai é Daryl Dixon?' Ele disse que sim. Os garotos disseram "Adoramos Daryl Dixon." Então ele estava tendo alguma atenção dos garotos mais velhos na escola. Dali em diante, ele se ligou no show. Veio ao set, conheceu os demais atores e realmente curtiu muito. Mas ele é como eu, se eu tentar falar algum spoiler ele diz "Não me conte, eu não quero saber."

Qual foi a coisa mais louca que já perguntaram sobre seu personagem no show? Talvez algo que tenham dito a você na Comic Con, e que fez você sacudir a cabeça?

Ouvi "Você precisa de um corte de cabelo. Você sabe que seu cabelo está enorme, certo?" E eu respondi "Você sabe que é um apocalipse zumbi, certo? Não há cabeleireiros no apocalipse zumbi."Daryl não stá tentando impressionar ninguém durante o apocalipse zumbi, então seria estranho se, de repente, ele aparecesse com um novo corte de cabelo.

Não acho que Daryl seja muito diferente do que ele era antes do apocalipse.

Tem isso também. Mas sem Merle por perto, eu acho que Daryl está sendo quem ele deseja ser, sem que alguém lhe diga "Você é um idiota." Entende? Ainda me perguntam "Por que você tem uma motocicleta? Ela não é barulhenta?" Daryl Dixon diria "Por que eu não dou a mínima, por isso." Mas ela economiza combustível, é um símbolo - você vê o cara na moto, é quase um símbolo dos solitários. E aquilo  mostrou muito de Daryl, especialmente no começo. Ele não queria andar numa Winnebago com Dale e Glenn e todo mundo mais, entende? Além disso, era a moto do irmão dele.

Daryl existe não apenas na TV e em videogames, mas ele também tem uma action figure, cosplayers e toneladas de arte feita por fãs. Como é esta experiência, ver sua imagem ligada a estas coisas diferentes e algumas fora de seu controle?

É muito divertido, e muito disso vem dos fãs. Há toneladas de merchandise da AMC e de outras companhias, com camisetas e action figures, e eu vejo muitas tatuagens de Daryl Dixon nas pessoas. É muito louco, mas lisonjeiro. Eu tenho uma sala cheia de bonecos do Daryl que foram feitos por fãs e enviados para mim - literalmente, uma sala cheia. Eu recentemente estive no closet de Mingus com ele para selecionarmos algumas roupas e perguntei "De quais delas você quer se livrar?" Votei 30 minutos depois e ele tinha uma pilha de camisetas de Daryl Dixon. Muitas vezes as fãs me dão alguma e também para ele. Eu respondi "Sério? Você quer se livrar de todas essas camisetas com o seu pai nelas?" E ele: "Sim, eu preciso encontrar minha própria identidade nesse momento, entende?"

Nos EUA existe um enorme interesse da sociedade pelo fim do mundo, e você vê isso em todos os tipos de shows de TV, de Revolution e Under the Dome até o National Geographic Channel, com seu "Doomsday Preppers". Como The Walking Dead se encaixa nisso?

Ano passado, um cara veio instalar a TV a cabo no apartamento que eu alugava. Ele me deu esta enorme pulseira de sobrevivência que ele fez. Você podia filtrar água com ele, fazer uma máscara ou o que quisesse - com esta pulseira você poderia fazer muitas coisas diferentes. Eu disse "Oh, legal!" e ele respondeu "Sim, eu assisto seu show. Eu estou me preparando para o apocalipse." Eu disse a ele "Sim, estar preparado, isso é importante agora. Eu tenho amigos em Nova York que também estão se preparando." Eles me dizem "Quando tudo acabar, este lugar será uma ratoeira. Eles irão explodir túneis e pontes, e vocês todos estarão presos. Então, qual o seu plano de fuga?" Eu estava contando isso para ele, e ele responde: "Sim, eu  tenho essa nova machadinha. Eu a levo para a floresta e treino arremessando-a em árvores - só por precaução." Eu respondi "Certo." E ele continou "Teve uma vez que eu olhei e havia um coiote me observando. Ele estava rosnando e, de repente, aquele gato passa por mim e sobe na árvore por detrás de mim. Então eu peguei a machadinha, arremessei e acertei o coiote bem no meio dos olhos. Agora o gato vive na minha casa e dorme naquele tapete de pele de coiote todas as noites." Há algo nisso. Mas é interessante - isso do show e do fim do mundo - e eu acho que é mais a respeito de todos estarem infectados, seu tempo estar acabando e você está no meio disso, então, quem você quer ser? Pelo que você lutaria e o quanto de humanidade você preservaria em si? Eu acho que as pessoas se identificam com nossos personagens e pensam sobre tudo isso. Então acho que é mais sobre as pessoas e menos sobre monstros ou o fim do mundo.

Alguma ironia no fato de que você e todos envolvidos no show estão tendo um enorme sucesso com algo que, essencialmente, é terrível?

Eu não sei. É interessante porque filmamos todo o show na floresta, longe de Starbucks, agentes, empresários e revistas de Hollywood. Onde filmamos [na Georgia]  é o oposto de LA, e não poderíamos fazer o mesmo show em Burbank. Não funcionaria. Eu li o piloto em L.A. e li vários outros roteiros - dramas policiais, de advogados, médicos, companheiros de quarto, e então encontrei isso. Era tão diferente e tão independente, tinha tanta qualidade por detrás. Tinha  [os produtores executivos] Frank Darabont, Robert Kirkman, Gale Anne Hurd e [o supervisor de maquiagem e efeitos especiais, e co-produtor executivo] Greg Nicotero, e o texto era tão forte que eu pedi: "Me coloque neste show! O que preciso fazer? Com quem eu falo?"

E depois que a primeira temporada aconteceu e tivemos algumas mudanças nas chefias, isso só fez a gente se dar por conta de como esse trabalho é bom. E estar lá, longe de tudo isso, aproximou muito o elenco. é um mundo diferente, você está feliz ao sair para trabalhar diariamente, volta para casa detonado, pontos na cabeça, hematomas, arranhões por tudo, você está todo dolorido, mas foi um bom dia de trabalho. E isso tem tudo a ver com o Sul. Então, eu não sei se há alguma ironia sobre estarmos no final do mundo, mas parecemos ainda lutar por esse trabalho, para mantê-lo fiel e realista, honesto. Definitivamente é um daqueles trabalhos em que você quer dar 110% de si todos os dias, porque acredita nele.

 

FONTE: Geek Magazine, novembro de 2013

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